terça-feira, 27 de maio de 2008



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Orange and Yellow

By Mark Rothko

segunda-feira, 26 de maio de 2008



Han-shan, fabuloso poeta lunático.

by Gibon Sengai

Han-shan, foi considerado por alguns como pertencente a uma linhagem xamânica.

http://www.terebess.hu/zen/sengai.html

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«Quem é poeta, vê nitidamente que há uma nuvem a pairar sobre esta folha de papel»






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Thich Nhat Hahn
a propósito do Sutra Avatamsaka
«Uma folha de papel é composta por elementos não-papel.»

Pintura de Liang K'ai
The Sixth Patriarch (Hui Neng) Tearing up the Sutra
Hanging Scroll, ink on paper, 73 x 31.7 cm. Collection of Mitsui Takanaru, Tokyo

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Epokê












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Que pândegos nós somos...!!!








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By Sengai

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web.kyoto-inet.or.jp/org/jikyu-an/page12.html







































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Bodhi-dharma

Bodhidharma by Fugai Ekun, 1568–1654 Japan, Edo period, 17th century
ink on paper



www.asia.si.edu/.../online/buddhism/japan4a.htm
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Alguém perguntou em certa ocasião ao grande mestre Zen da escola Lin Chi, da dinastia Sung, Hsü T'ang Chih Yü (1185-1269): "diz-me, mestre, que sentido tem a vinda do Primeiro Patriarca (Bodhi-dharma) desde o Ocidente?". E ele respondeu:

Profundo é o monte, nenhum hóspede se anuncia: durante todo o dia, escuto o palparrear dos monos.


Izutsu,T. El Kôan Zen, p.92.
Trad.: L.T.

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Oriente, Téc/ mista S/tela, 65x95cm+-, 1999.
Colecção: Figueiredo Sobral (artista plástico)
Pintura realizada por Luís de Barreiros Tavares

Só estarei apto a pintar um peixe quando ele me tornar peixe



Hokusai

quinta-feira, 22 de maio de 2008

" Todas as coisas podem ser reconduzidas ao Um, a que pode o Um ser reconduzido?"




Extraído de um texto de Hsu Yun (1839-1959)



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O sonho, téc.mista s/tela, 100x100cm, 2001
Colecção: Dra. Manuela Costa.
Pintura de Luís de Barreiros Tavares.

Je ne fais rien (conto Zen)

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"Yakusan était seul, en zazen dans le dojo;


le maître entra et lui demanda:
«Que fais-tu?»


Le disciple répondi:
«Je ne fais rien.»



Le maître remarqua:
«Tu fais zazen!»



Le disciple lui dit:
«Si j'avais répondu zazen, cela
aurait voulu dire que je faisais zazen.»


Le maître demanda alors:
« Tu fais quelque chose...pourquoi est-ce ne rien faire?...»



Le disciple lui dit :
« Même mille Bouddhas ne peuvent comprendre.»




Le Bol et Le Bâton; p.46


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maximize

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O presente é também constituído pelo passado




O presente contém o passado. Quando não compreendemos como as nossas formações internas provocam em nós conflitos, poderemos ver de que maneira o passado se encontra no momento presente, e então não somos doravante submergidos pelo passado. Quando o Buda declara: «Não persigam o passado», ele não nos pede para não nos afogarmos nele. Ele não quer dizer que devemos parar de olhar para o passado e de o observar profundamente, mas de o fazer enquanto firmemente instalados no presente, pelo que, assim, não nos encontramos mais submergidos pelo passado. Os materiais do passado constituem o presente e revelam-se quando se exprimem e se actualizam no presente. Podemos aprender muito graças a eles. Se olhamos profundamente estes materiais, poderemos ter dele uma nova compreensão. Segundo a sageza confuciana, isso chama-se « observar novamente qualquer coisa de antigo para nele apreender qualquer coisa de novo».



Se sabemos que o passado se encontra também no presente, compreendemos que somos capazes de mudar o passado transformando o presente. Os fantasmas do passado, que nos seguem no presente, pertencem também ao momento presente. Observá-los profundamente, reconhecer a sua natureza e transformá-los, leva a modificar o passado. Os fantasmas do passado são muito reais. São as nossas formações internas que são, por vezes, aliviadas, adormecidas, e que, noutros momentos, se despertam bruscamente e agem de maneira brutal.




Encontramos no budismo o termo sânscrito anusaya. Anu significa «com»; saya, «repouso». Poderemos traduzir anusaya por «tendência latente». As formações internas continuam a subsistir em nós, mas elas repousam, fugidias, nas profundezas da nossa consciência. Chamamo-las fantasmas, mas elas existem de uma maneira muito real. Segundo a escola, vijñanavada do budismo, as anusaya são graínhas que se encontram na consciência alaya de cada um. Uma parte importante do trabalho de meditação-observação consiste em ser capaz de reconhecer as anusaya quando elas se manifestam, de as observar profundamente e de as transformar.»




Thich Nhat Hanh, La Respiration Essentielle, notre rendez-vous avec la vie, Albin Michel Spiritualités vivantes.









Pintura: S/Título, téc.mista s/tela, 100x150cm, 1999.
Colecção: Luís José de Vasconcelos (artista plástico)
Pintura de Luís tavares

terça-feira, 20 de maio de 2008

The mind is not the Mind, and becoming enlightened is not becoming enlightened.



Obaku



Before your father and mother were born, what was your original face?



Daito Kokushi

















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Mondô, Esmalte (dripping) e acrílico sobre tábua, 27x75cm+-, 1999.
Colecção privada

Pintura:Luís Tavares

http://www.kktanhp.com/a_touch_of_zen.htm

Um monje perguntou um dia ao mestre Chang Sha:

" Como é possível transformar (quer dizer, interiorizar) as montanhas, os rios e a grande terra, para reduzir tudo ao meu próprio espírito?"

Chang Sha respondeu:
"Como é possível, efectivamente, transformar as montanhas, os rios e a grande terra, para reduzir tudo ao meu próprio espírito?"

O monje acrescentou:
" Não vos compreendo".
Fragmento de Uji (ser-tempo) de Eihei Dogen


«Quando alguém tem uma dúvida sobre alguma coisa que não compreende completamente, essa dúvida permanece até que seja resolvida. Assim, a própria dúvida muda, ela é mutável. As dúvidas passadas não coincidem necessariamente com as dúvidas presentes. Assim, a própria dúvida não é outra coisa que não seja o tempo.»

Dogen



Pierre Crépon, Les Fleurs de Bouddha, p.284.

segunda-feira, 19 de maio de 2008









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Portrait of Matsuo Bashō by Yokoi Kinkoku, c. 1820

en.wikipedia.org/wiki/Haiga







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By Sengai...



"Quem é poeta, vê nitidamente que há uma nuvem a pairar sobre esta folha de papel."



Thich Nhat Hahn
Num texto inspirado no Sutra Avatamsaka




The Bridge at Mama

















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By Hakuin Ekaku (1685-1768)

sexta-feira, 16 de maio de 2008



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'Aquatic plants', Acrílico, óleo e esmalte sobre cartão colado a madeira, 27x50cm (+-), 1997.
Colecção: Galeria Hexalfa. Doação a Luís Fílipe de Figueiredo e a Diva Morazzo.
Painting by Luís Tavares

Enkidu











Do capítulo: A chegada de Enkidu.





Então ele comeu até ficar cheio e bebeu vinho forte, sete taças. Ficou alegre, o seu coração exultava e o seu rosto brilhava. Alisou o cabelo emeranhado do seu corpo e untou-se com óleo. Enkidu tornara-se um homem, ei-lo como um noivo. Pegou em armas para caçar o leão, para que os pastores pudessem descansar de noite. Apanhou lobos e leões, e os homens dos rebanhos descansaram em paz, pois Enkidu, o homem forte que não tinha rival, era o seu vigilante.
Estava contente vivendo com os pastores até que um dia, erguendo os olhos, viu um homem que se aproximava. Disse para a cortesã:
«Mulher, trás cá aquele homem. Porque veio ele? Quero conhecer o seu nome.»
Ela foi e chamou o homem, dizendo:
«Senhor, aonde vais nessa fatigante viagem?»
O homem respondeu, dizendo a Enkidu:
« Gilgamesh entrou na casa da boda e fechou a porta ao povo. Ele fez estranhas coisas em Uruk, a cidade das grandes ruas. Ao rufar o tambor o trabalho começa para os homens, começa o trabalho para as mulheres. Gilgamesh, o rei, vai celebrar casamento com a Rainha do Amor, e ainda exige ser o primeiro com a noiva, primeiro o rei e o marido a seguir, pois isso foi ordenado pelos deuse desde o seu nascimento, desde que o cordão umbilical lhe foi cortado. Mas agora os tambores rufam para a escolha da noiva e a cidade lamenta-se»
Ao ouvir estas palavras, o rosto de Enkidu empalideceu.
«Eu irei ao lugar onde Gilgamesh reina sobre o povo, eu o desafiarei corajosamente, e em voz alta gritarei em Uruk:
Eu vim para alterar o curso das coisas, pois aqui sou o mais forte.»
Então Enkidu caminhou à frente e a mulher seguiu atrás dele. Entrou em Uruk, o grande mercado, e todas as pessoas se aglomeravam à sua volta enquanto esteve nas ruas de Uruk, a de fortes muralhas. O povo atropelava-se; falando dele diziam:
«É o estilete de Gilgamesh.»
«É mais pequeno.»
«É mais largo de ossos.»
«Este é o que foi criado com o leite dos animais bravios. Dele é a maior força.»
Os homens rejubilavam:
«Agora Gilgamesh encontrou um adversário. Este grande homem, este herói cuja beleza é semelhante à de um deus, pode competir até com Gilgamesh.»
Em Uruk estava feita a cama nupcial, digna da deusa do amor. A noiva esperava o noivo, mas de noite Gilgamesh levantou-se e foi a casa. Então Enkidu saiu, pôs-se na rua e barrou o caminho. Chegou o poderoso Gilgamesh e Enkidu encontrou-se com ele à entrada. Atravessou o pé e impediu que Gilgamesh entrasse na casa, e então agarraram-se um ao outro como touros. Quebraram as ombreiras da porta e as paredes foram sacudidas, resfolgavam como touros enganchados. Destruíram as ombreiras da porta e as paredes foram sacudidas. Gilgamesh dobrou o joelho com o pé assente no chão, e com uma volta Enkidu foi derrubado. Então imediatamente a sua fúria faleceu. Quando Enkidu foi derrubado, disse a Gilgamesh:
«Não há no mundo outro como tu. Ninsun, que é tão forte como um boi selvagem no estábulo, foi a mãe que te gerou, e agora ergues-te acima de todos os homens; e Enlil deu-te a realeza, porque a tua força ultrapassa a força dos homens.»
E então Enkidu e Gilgamesh abraçaram-se, e foi selada a sua amizade.
Gilgamesh, Op.cit. p.19-20
Téc. mista s/tela, 100x80cm, 2003.
Panting by L. Tavares
Colecção do autor.
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Versão definitiva


'
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maximize

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«Haveis tido a sorte única de tomar a forma humana. Não perdeis o vosso tempo. Trazei a vossa contribuição à obra essencial da Via de Bouddha. Quem tomaria um prazer vão ante a flâmula jorrada do sílex? Forma e substância são como o orvalho sobre a erva, o destino semelhante a um relâmpago - esvanecidas num instante»






Dogen






in Le Trésor du Zen (Op.cit.)


Trad.: L.T.


"Imemorial", téc.mista s/tela, 150x150cm, 2000
Pintura de Luís de Barreiros Tavares
Colecção do artista.

Ou: Falarão também os confins dos tempos do nosso tempo?



"Segundo a sageza confuciana [...] « observar novamente qualquer coisa de antigo para nele apreender qualquer coisa de novo»." Extraído de um texto Thich Nhat Hanh

Kyudo... Arte marcial com tiro ao arco...














«A «Doutrina Magna» do tiro com arco diz-nos outra coisa. Segundo ela, o tiro com arco continua a ser uma questão de vida ou de morte, na medida em que é o confronto do arqueiro consigo próprio; esta forma de confronto não é um sucedâneo débil, mas sim um fundamento de sustentação de todos os confrontos com o exterior, ou com um opositor, entre outros, um de carne e osso. A essência secreta desta arte revela-se neste confronto do arqueiro consigo mesmo, e por isso o seu aprendizado não perde nada de fundamental, se prescindir da aplicação prática exigida nas antigas lutas cavaleirescas.»





Herrigel, E., Zen e a Arte do tiro com Arco, Lisboa, Assírio & Alvim, 2006.


quinta-feira, 15 de maio de 2008




Um mondô zen


Um monje perguntou um dia ao mestre Chang Sha:
" Como é possível transformar (quer dizer, interiorizar) as montanhas, os rios e a grande terra, para reduzir tudo ao meu próprio espírito?"
Chang Sha respondeu: "Como é possível, efectivamente, transformar as montanhas, os rios e a grande terra, para reduzir tudo ao meu próprio espírito?"
O monje acrescentou: " Não vos compreendo".


in Izutsu, Op.cit.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Um monje perguntou certo dia a Yün Mên:
"Que é o Buda?"
E Mên respondeu:
"Um debulhador de cascas na varredura"


Izutsu, T., El Kôan Zen.

terça-feira, 13 de maio de 2008

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Escucha!

He aquí la anédocta tal como viene transcrita en el Pi Yen Lu:

Escucha! Un día, Ma Tsu estava en camino hacia alguna parte acompañado de Pai Chang, cuando vieron de pronto un pato salvaje que pasaba por encima de ellos. Ma preguntó: «Qué es?» y Pai respondió: «Un pato salvaje». Ma:« A dónde vuela?». Pai: Ya se ha marchado!». Al oír esto, Ma agarró la nariz de Pai Chang y se la torció violentamente. Pai gritó de dolor:« Ay!». Ma dijo entonces: « Cómo puedes decir que el pato salvaje se ha marchado?»

«Escuta! Um dia Ma tsu estava de caminho para algum lugar acompanhado de Pai Chang, quando viram de súbito um pato selvagem que passava por cima deles. Ma perguntou: « O que é?» e Pai respondeu:« Um pato selvagem». Ma: « aonde voa?». Pai: «já abalou!». Ao ouvir isto, Ma agarrou no nariz de Pai Chang e torceu-o violentamente. Pai gritou de dor: «Ai!». Ma disse então: « Como te atreves a dizer que o pato selvagem já abalou?»

Toshihiko Izutsu, El Kôan Zen, p.87.

Trad. L.T.

O Ovo...






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Foto maximizável.

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Entreposto

"O deserto cresce....." (Nietzsche)











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"Sem título", ou " The Silence", Téc. mista s/tela, 70x60cm, 1999.

Painting by Luís Tavares

Colecção privada.
Um não não assim tão simples...

"O kôan nº 1 do do Wu Mên Kuan, intitulado "O cão de Chao Chu", mais conhecido como "A Palavra Wu de Chao Chu", porque wu, em japonês mu, significa simplesmente, não!

Um monje perguntou a Chao Chu: " Um cão possui a natureza do Buda?" E o mestre respondeu: "Não!"

Acerca deste kôan escreveram-se inúmeros comentários, todos concernentes à palavra "não". E tantas foram as opinões divergentes quantos os autores que a trataram. Particularmente interessante é a do mestre Ta Hui (1089-1163), da escola Lin Chi (em japonês: Rinzai). Foi ele quem instaurou nesta escola a tradição, todavia viva no Japão, de utilizar este kôan como meio mais eficaz para aceder à iluminação. A palavra wu ou mu tem uma função quase mágica, um pouco como o som mântrico om no misticismo indiano. O próprio som wu! e não o seu sentido, está considerado como psicologicamente capaz de conduzir o espírito do adepto a superar a oposição da afirmação e da negação, de tal modo que a sua subjectividade se transforme finalmente em WU! o proprio (o Nada).
No plano linguístico, é muito mais simples interpretar o wu! de Chao Chu como a presentação directa da dimensão da não-articulação que acabamos de mencionar. Chao Chu, noutros termos, anula imediatamente o efeito da articulação operada pelo monje, onde a realidade inarticulada fora fragmentada em duas entidades, o cão e a natureza de Buda. Conduz ambas ao Nada original, no qual não há nada que possa ser separado, seja um cão, seja a natureza mesma do Buda."

Izutsu, T., El Kôan Zen (Op.cit), p.41.

Trad.:L.T.




Eno


"Eno, um jovem rapaz educado na pobreza e na indigência, ganhava a sua subsistência e a de sua mãe vendendo madeira no mercado. Nunca havia tido a oportunidade de aprender a ler e a escrever.

Um dia, quando levava lenha a um cliente, a sua atenção foi desperta por um homem que recitava um sutra. A partir do momento em que escutou palavras desse sutra, o Sutra do Diamante, o seu espírito sofreu uma transformação e ele despertou.

Decidiu então tornar-se monje. Estabeleceu-se no templo de Konin. Mas, enquanto jovem discípulo, iniciante e completamente iletrado, não podendo receber a ordenação de monje, manteve-se simplesmente assistente de cozinheiro.

No templo do mestre Konin o poema escrito por Jinshu era considerado como o melhor :


O nosso corpo é como a árvore de Bodhi.

O espírito é como o espelho precioso.

Também devemos nós a cada dia desempoeirá-lo

A fim de que a poeira nele se não deposite.


Se a cada dia praticamos , acaba-se por obter o satori. Passo a passo, é o Zen gradual tal como o concebia Jinshu.

Eno olhou o poema e pediu a um dos seus amigos que lho lesse.

«Oh, é um grande poema! Jinshu tornar-se-à certamente o sucessor de nosso mestre», disse o amigo, e leu este poema a Eno.

«É um erro, insurgiu-se Eno. Não é o verdadeiro Zen. Jamais o nosso mestre ensinou tais coisas. Escutei as suas conferências, e não encontro neste poema a essência do seu ensinamento. Escreve-me isto, por favor:


Não há árvore de Bodhi

Nem espelho precioso

Tudo é vacuidade (ku)

Aonde a poeira poderá depositar-se?»


Eis o Zen súbito. Zazen, ele próprio, é satori, aqui e agora. Estes dois pontos de vista, apesar da sua contradição, podem parecer exactos. No entanto, é a Eno que o mestre remete a transmissão. «Tu deves fugir, os meus discípulos irão procurar matar-te. Compreendeste o Zen. Obtiveste o satori.»
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Le Trésor du Zen, Albin Michel.
S/título, téc.mista s/tela, 80x116cm, 1999.
Obra destruída.
Pintura de Luís de Barreiros Tavares.
Trad.:L.B.T.



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Thesis, téc. mista s/tábua fendida com lâmpada de néon no bastidor, 100x80cm, 2002.
Luís Tavares
Colecção do autor.

sexta-feira, 9 de maio de 2008





"Bodhidharma, primeiro patriarca do Zen chinês, usava a via negativa para conduzir os seus discípulos ao despertar (l'éveil).
Eka (487-593) foi um dos seus discípulos.
Um dia, Bodhidharma estava sentado face ao muro. A neve caía com cada vez mais intensidade. Eka, que se mantinha de pé na neve, disse :
« Com sua licença, desejo ser vosso discípulo. »
Bodhidharma, imperturbável, não olhou para ele e continuou fazendo zazen. Então, Eka cortou seu braço para exprimir a sua determinação. E dirigiu-se a Bodhidharma :
« O espírito de vosso discípulo não está em paz, suplico-vos, mestre, que o pacifiqueis ! »
Bodhidharma respondeu :
« Trazei-me o vosso espírito, e eu o pacificarei.
- Procurei-o por todo o lado mas não consegui encontrá-lo;
finalmente ele é inalcansável », respondeu Eka.
Sobre o que o mestre disse : « Eis que já se pacificou. »
Bodhidharma posou enfim com atenção o seu olhar em Eka. Eka fez sanpaï (1)."



(1) San : três; paï : prosternação, fronte voltada para o solo, as palmas das mãos, de cada lado da cabeça, dirigidas para o céu.


Le Trésor du Zen, Op.cit, p.19.
Trad.:LBT.








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Quadrado branco sobre fundo branco

Malevitch, Kasimir

http://omeupequenoponei.blogspot.com/2007/11/os-meus-cones-16.html

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"Segue-se que, para que haja negação pictórica total (quer dizer, abstracta, no sentido em que as formas fazem linguagem, e se bastam a si próprias já não necessitando de um referente para se fazerem compreender), é preciso antes do mais que um movimento aleatório completo se apodere das formas e lhes tire a sua significação, movimento que, para ser completo, deve retroagir e atingir não só o referente (o representado na representação), mas o que, na própria forma, faz sentido ou permanece como um resto de inerência do conteúdo. Só assim o caos total se instalará e se tornará negação; só assim esta se distinguirá; só assim a pintura se poderá auto-reflectir, tomando o seu próprio movimento de formação da forma como único referente.»


Sobre Malevitch: José Gil, A Imagem-Nua e as Pequenas Percepções, Tra. M.S.Pereira, Lisboa, Rel.D'água, 1996, p.146.

The Oxherding Sequence


www.iloveulove.com/.../buddhist/tenbulls.htm
Eihei Dogen by Dogen. Auto-retrato



Un jour, Kyogen balayait le jardin devant un ermitage, dans la montagne, un petit caillou alla frapper le bambou. Par ce son, il s'éveilla et obtint le satori.
Il écrivit alors un poéme:


Par un coup, par le son d'un caillou,

Par le son d'un bambou,

J'ai tout oublié. J'en ai fini avec toute l'intelligence

qui emplissait mon cerveau.

Mes complications ont pris fin.


Un jour, maître Reiun regardait les coleurs des fleurs de pêcher à travers son corps et son esprit. Il s'éveilla.
Ces satoris furent le vide total. Mais ils ne dépendaient pas de leur cerveau. Ils ont agi inconsciement.
Dogen écrit:

«Lorsqu'ils ont obtenu le satori, cela ne s'est pas produit soudainement. Le satori n'est pas subit. Si l'occasion, l'opportunité se présentent, si le moment est arrivé, comme résultant d'une longue expérience, d'une longue pratique de zazen, d'un long dokan, à ce moment, on obtient le satori.»
Lorsqu'on peut résoudre ses doutes et s'éveiller, le doute prend fin et on peut s'identifier à lui. C'est l'unité, le satori, au-delà du subjectif et de l'objectif comme l'endroit et l'envers d'un feuille de papier."


Le Trésor Du Zen, Textes de Maître Dogen commentés par Taisen Deshimaru, Paris, Albin Michel, Spiritualités vivantes, 1986, p.139.

A Buddhist nun in Burma smokes a cigar outside a hotel in the capital, Rangoon.


news.bbc.co.uk/2/hi/in_pictures/6034087.stm


Buddhist nuns
As for the tea ceremony, it exists in mind,
not in technique: in technique, not in
mind.

By Gibon Sengai













www.mimagazine.com.au/.../06_BookSengai.htm

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Confraternização.
By Gibon Sengai

Pu-tai e companhia!
By Sengai!

quinta-feira, 8 de maio de 2008


Gilgamesh

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«(...) O povo da cidade, grandes e pequenos, não está silencioso; ergue uma lamentação, todos os homens de carne e sangue erguem a lamentação. O destino falou: como um peixe preso no anzol, ei-lo estendido no leito, como uma gazela apanhada no laço. O desumano Namtar pesa sobre ele, Namtar que não tem mão nem pé, que não bebe água nem come carne.
Para Gilgamesh, filho de Nimsum, eles pesaram as suas oferendas; a sua cara esposa, o filho, a concubina; os seus músicos, o seu bobo e todos os parentes; os seus servos, os seus intendentes, todos os que viviam no palácio pesaram as suas oferendas por Gilgamesh, o filho de Ninsun, o coração de Uruk. Pesaram as suas oferendas para Ereshkigal, a Rainha da Morte, e para todos os deuses dos mortos. Pesaram a oferenda a Namtar, que é destino. Pão para Neti, o Guardião da Porta, pão para Ningizzida, o deus da serpente, o senhor da Árvore da Vida; e também para Dumuzi, o jovem pastor, para Enki e Ninki, para Endukugga e Nindukugga, para Enmul e Ninmul, para todos os deuses ancestrais, antepassados de Enlil. Um festim para Shulpae, o deus dos festejos. Para Samuqan, deus dos rebanhos, para a mãe Ninhursag e para os deuses da criação no lugar da criação, para o exército do céu o sacerdote e a sacerdotiza pesaram a oferenda dos mortos.
Gilgamesh, o filho de Ninsun, repousa no túmulo. No lugar das oferendas ele pesou a oferenda do pão, no da libação ele derramou o vinho. Naqueles dias partiu o senhor Gilgamesh, o filho de Ninsun, o rei, o incomparável, sem igual entre os homens, que não desprezou Enlil, seu mestre. Ó Gilgamesh, senhor de Kullab, grande é a tua glória!»
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Gilgamesh, Op.cit., p.78.
Imagem: "Gilgamesh",Téc.mist. sobre madeira, 100x80(+-),2003.
Pintura de Luis Tavares.
Colecção do autor.



"Grandes são os desertos....." (F. Pessoa)

Téc. mista s/tela e collage: conchas e pedras,130x90cm(+-),1999.

Painting by Luís Tavares.

Colecção: José Pinheiro Neves.

continuação



Nota (10) do último trecho (Entrar no mundo da interdepedência graças à teoria da relatividade) apresentado em La Vision Profonde... de Thich Nhat Hanh, p.123.



(10)" Aqueles de entre vós para quem a teoria da relatividade não é familiar talvez não compreendam a noção de «continuum quadridimensional». Antes de Einstein, o matemático alemão Minkowski tinha já dito que o tempo e o espaço separados um do outro não são senão fantasmas imaginários (itálicos nossos); é somente quando eles se encontram conjuntamente (ensemble) que representam a realidade. A teoria da Relatividade diz que todas as coisas móveis (blocos de pedra sobre a terra deslocam-se todos em conjunto com a própria terra) podem existir somente no tempo e no espaço num momento dado. Por exemplo, se um avião descola de Paris com destino a Nova Deli, o controlador aéreo no solo deve conhecer não somente a sua longitude x, a sua latitude y, e a sua altitude z, mas deve conhecer também o tempo t com o fito de ter a posição exacta do avião a cada instante do voo. O tempo t é, portanto, a quarta dimensão.
O tempo, o espaço, a massa e o movimento existem em interrelação uns com os outros, e quanto maior é a densidade da massa, mais o espaço que a envolve será curvo. A luz emitida pelos corpos celestes segue uma linha curva quando passa próxima de enormes massas como a do sol, porque, na vizinhança do sol, o espaço é mais curvo. A luz e a energia são também massas, porque a matéria e a energia não são senão uma, segundo a famosa fórmula e = mc2, na qual e é a energia, m a massa, e c a velocidade da luz. A presença da matéria arrasta a curvatura do espaço; em consequência, na relatividade, a linha recta absoluta das matemáticas euclidianas não tem mais lugar."


Thich Nhat Hanh, Op.cit.


Suprematismo












Malevitch

Pintura Suprematista

www.wolnaencyklopedia.krzywokulski.pl/pt/wiki...

quarta-feira, 7 de maio de 2008


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By Sengai



Un jour, Kyogen balayait le jardin devant un ermitage, dans la montagne, un petit caillou alla frapper le bambou. Par ce son, il s'éveilla et obtint le satori.

Il écrivit alors un poéme:


Par un coup, par le son d'un caillou,
Par le son d'un bambou,
J'ai tout oublié. J'en ai fini avec toute l'intelligence
qui emplissait mon cerveau.
Mes complications ont pris fin.




Un jour, maître Reiun regardait les coleurs des fleurs de pêcher à travers son corps et son esprit. Il s'éveilla.



Ces satoris furent le vide total. Mais ils ne dépendaient pas de leur cerveau. Ils ont agi inconsciement.



Dogen écrit:



«Lorsqu'ils ont obtenu le satori, cela ne s'est pas produit soudainement. Le satori n'est pas subit. Si l'occasion, l'opportunité se présentent, si le moment est arrivé, comme résultant d'une longue expérience, d'une longue pratique de zazen, d'un long dokan, à ce moment, on obtient le satori.»



Lorsqu'on peut résoudre ses doutes et s'éveiller, le doute prend fin et on peut s'identifier à lui. C'est l'unité, le satori, au-delà du subjectif et de l'objectif comme l'endroit et l'envers d'un feuille de papier."









Le Trésor Du Zen, Textes de Maître Dogen commentés par Taisen Deshimaru, Paris, Albin Michel, Spiritualités vivantes, 1986, p.139.





"O bô! kyô wa
kidoku ni zazen to
dekakete ja no."

"O yo!"

"Hey, bonze!
Wonder of wonders
you're doing zazen today."

"Sure!"

http://www.terebess.hu/zen/hakuin/hakuin28.html

"Hakuin here caricatures himself as Pu-tei (Hotei, em japonês), the god of good fortune, supporting his generous belly as he meditates."

Anne Bancroft, Zen, London, Thames and Hudson, p.69.

Auto-retrato de Hakuin.

Hakuin com ar preguiçoso...

Continuação:

"Entrar no mundo
da interdependência
graças à teoria da relatividade

O Sutra Avatamsaka diz que o tempo e o espaço se contém um ao outro, dependendo um do outro para a sua existência, e não são secáveis pelo conhecimento. A teoria da relatividade de Albert Einstein, concebida dois mil anos depois, confirma a relação insecável do tempo e do espaço. O tempo é considerado como a quarta dimensão de um continuum espaço-tempo quadridimensional (10). Esta teoria refuta a hipótese segundo a qual o espaço é um quadro absoluto imutável no interior do qual o universo se desenvolve. A ideia de um tempo universal absoluto é destruída simultaneamente. Ela proclama que o espaço é simplesmente a organização conjuntural das relações das coisas entre elas num quadro de referência dado, e que o tempo mais não é do que a organização cronológica dos acontecimentos num quadro de referência dado.

O tempo, seguindo esta teoria, não pode ser senão local e não universal. É por esta razão que o conceito de « agora » não pode ser aplicado senão ao « aqui » e não a outros referenciais (endroits) do universo. De igual modo, « aqui » não pode senão aplicar-se a este instante, « agora », e não a um outro, no passado ou futuro. Isto porque o espaço e o tempo não podem existir senão em conjunto (ensemble). Não podem existir independentemente um do outro. Esta teoria permite-nos utilizar as descobertas científicas sobre a natureza relativa do espaço e do tempo para nos descartar (défaire), desengajar, das nossas ideias baseadas sobre o espaço «infinito» e o tempo «ilimitado», de ideias tais como as de finito e infinito, interior e exterior, antes e depois. Se observarmos o céu interrogando-nos sobre o que existe para além do limite extremo do universo, não compreendemos ainda a relatividade e ainda não rejeitámos a ideia de um espaço absoluto que existe independentemente das coisas. E se nos perguntamos para onde vai o universo, é porque acreditamos ainda num tempo universal e eterno. A teoria da relatividade participa ao mesmo tempo do progresso da ciência e da filosofia. É lamentável que Einstein não tenha legado este soberba nave espacial para viajar ainda mais à frente no mundo da realidade."


Thich Nhat Hanh, Op.cit, p.123 e sgs.


Um comentário: Consta que Einstein leu, ainda muito jovem, A Crítica da Razão Pura de Kant.

terça-feira, 6 de maio de 2008




Não ter medo nem da vida nem da morte


"Continuai a praticar a meditação sobre a interdependência durante um momento e assinalareis uma mudança em vós. Vossa perspectiva alargar-se-á, e ireis dar-vos conta que considerais todos os seres vivos com compaixão. Os rancores e os ódios que pensáveis indestrutíveis começarão a desvanecer-se, e tornar-vos-eis atento para cada ser. Mais importante, não sereis mais importunado pela vida e pela morte.. Talvez já tereis ouvido falar de Erwin Schrödinger, que descobriu a mecânica das ondas. Após ter reflectido sobre o si, a vida e a morte, o universo, a unidade e a multiplicidade, escreveu:

«Assim, podeis lançar-vos de chapa, de ventre sobre o solo, estender-vos sobre a Terra Mãe, com a convicção absoluta de que não fazeis com ela senão um e que ela não faz senão um convosco. Estareis assim firmemente enraízado e mais invulnerável. É tão certo que ela vos engolirá amanhã, como certo também que ela vos fará renascer para vos afrontar de novo esforços e sofrimentos. E não simplesmente «um dia talvez»: agora, hoje aonde ela vos dá nascença, não uma vez, mas milhares e milhares de vezes, da mesma maneira que cada dia ela vos engole milhares de vezes. Para a eternidade e para sempre, há somente agora, um só e mesmo agora; o presente é a única coisa que não tem fim (8)

Se uma tal visão - como a de Schrödinger - se encontra bem presente na nossa vida quotidiana, seremos impassíveis perante a vida e a morte.

O passado, o presente e o futuro na ponta de um cabelo

A opinião de Schrödinger sobre o tempo encoraja-nos a dar mais um passo na nossa meditação sobre a interdependência. Nossas concepções sobre o interior e o exterior, o uno e o múltiplo, começam a desaparecer quando observamos a natureza do inter-ser e da interpenetração de todas as coisas. Mas estas ideias não se desvanecerão completamente enquanto crermos que o espaço absoluto e o tempo absoluto são necessários à aparição de todos os fenómenos. Nos primeiros tempos da escola búdica do Dharmalaksana («Meditação sobre os fenómenos»), o espaço era considerado como uma realidade independente do reino do nascimento e da morte. Quando a escola Madhyanika («Meditação sobre o nóumeno», ou natureza essencial) começou a desenvolver-se, o tempo e o espaço eram descritos como falsas concepções da realidade que dependiam uma da outra para a sua existência. Desde que o princípio do inter-ser e da interpenetração do Sutra Avatamsaka se recusa em aceitar os conceitos de interior/exterior, grande/pequeno, um/vários como reais, ele rejeita o conceito de espaço enquanto realidade absoluta. No que respeita ao tempo, a distinção conceptual entre passado, presente e futuro é também destruída. O Sutra Avatamsaka diz que o passado e futuro existem no presente, o presente e o passado no futuro, o presente e o futuro no passado, e, ao cabo e ao resto toda a eternidade num Ksana, o momento mais breve existente. Para resumir, o tempo, como espaço, é marcado pelo selo da interdependência, e um instante contém três tempos : o passado, o presente, o futuro.


O passado no presente e no futuro,
O futuro no presente e no passado,
Três tempos e vários éons num
instante
Nem longo, nem curto - é a libertação.

Posso penetrar no futuro
incluindo toda a eternidade num instante.


O Sutra Avatamsaka acrescenta: « Não somente um grão de poeira contém nele mesmo o espaço "infinito", ele contém também o tempo "ilimitado"; num só ksana encontramos simultaneamente o tempo "infinito" e o espaço "ilimitado" (9)

O passado, o presente, o futuro sobre a ponta de um cabelo e também inumeráveis mundos de Buda."


(8) Edwin Schrödinger, My View of the World (London: Cambridge University Press, 1964)
(9) Os termos ilimitado (vo cung) e infinito (vo tan) estão entre aspas porque os utilizo provisoriamente.


in Thich Nhat Hanh, La Vision Profonde, De la pleine Conscience à la contemplation intérieure, Paris, Albin Michel, Spiritualités vivantes, pp.119 e sgs.


Tradução: L.B.T.


Apontamento: Poderíamos alegar que o autor ao parecer refutar os conceitos acaba afinal por servir-se deles. Sim, mas serve-se deles para melhor fazer com que eles se rebatam sobre si, na sua nulidade, enquanto considerados 'como tais' (ser enquanto ser, p.ex.), na sua reificação. Ao ponto de, nesse movimento não deixarem de inscrever um novo sentido que abra um diálogo latente mas ainda não suficientemente aberto entre a força das tradições - espirituais, no fundo - Oriental e Ocidental.
Esse movimento a que aludimos acima revela-nos a "marcialidade" do pensamento Oriental. 'Marcial' não no sentido banal bélico e militar. Como se sabe, as artes marciais estabelecem uma relação complexa entre as perspectivas de 'auto' e de 'alter', entre a autodefesa e o combate consigo mesmo. Daí o uso da força 'autopulsada' que consiste numa tensão em con-tensão, em parada: num autodomínio. Como uma arte do corpo, uma dança, um ritual, e um exercício espiritual de meditação que cada um, só ou com os outros, exerce como uma prática. Onde 'físico' e 'mental' ganham outras tonalidades na dimensão perceptiva (ou num outro espectro de percepção).