quarta-feira, 7 de maio de 2008

Continuação:

"Entrar no mundo
da interdependência
graças à teoria da relatividade

O Sutra Avatamsaka diz que o tempo e o espaço se contém um ao outro, dependendo um do outro para a sua existência, e não são secáveis pelo conhecimento. A teoria da relatividade de Albert Einstein, concebida dois mil anos depois, confirma a relação insecável do tempo e do espaço. O tempo é considerado como a quarta dimensão de um continuum espaço-tempo quadridimensional (10). Esta teoria refuta a hipótese segundo a qual o espaço é um quadro absoluto imutável no interior do qual o universo se desenvolve. A ideia de um tempo universal absoluto é destruída simultaneamente. Ela proclama que o espaço é simplesmente a organização conjuntural das relações das coisas entre elas num quadro de referência dado, e que o tempo mais não é do que a organização cronológica dos acontecimentos num quadro de referência dado.

O tempo, seguindo esta teoria, não pode ser senão local e não universal. É por esta razão que o conceito de « agora » não pode ser aplicado senão ao « aqui » e não a outros referenciais (endroits) do universo. De igual modo, « aqui » não pode senão aplicar-se a este instante, « agora », e não a um outro, no passado ou futuro. Isto porque o espaço e o tempo não podem existir senão em conjunto (ensemble). Não podem existir independentemente um do outro. Esta teoria permite-nos utilizar as descobertas científicas sobre a natureza relativa do espaço e do tempo para nos descartar (défaire), desengajar, das nossas ideias baseadas sobre o espaço «infinito» e o tempo «ilimitado», de ideias tais como as de finito e infinito, interior e exterior, antes e depois. Se observarmos o céu interrogando-nos sobre o que existe para além do limite extremo do universo, não compreendemos ainda a relatividade e ainda não rejeitámos a ideia de um espaço absoluto que existe independentemente das coisas. E se nos perguntamos para onde vai o universo, é porque acreditamos ainda num tempo universal e eterno. A teoria da relatividade participa ao mesmo tempo do progresso da ciência e da filosofia. É lamentável que Einstein não tenha legado este soberba nave espacial para viajar ainda mais à frente no mundo da realidade."


Thich Nhat Hanh, Op.cit, p.123 e sgs.


Um comentário: Consta que Einstein leu, ainda muito jovem, A Crítica da Razão Pura de Kant.

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