sexta-feira, 16 de maio de 2008

Enkidu











Do capítulo: A chegada de Enkidu.





Então ele comeu até ficar cheio e bebeu vinho forte, sete taças. Ficou alegre, o seu coração exultava e o seu rosto brilhava. Alisou o cabelo emeranhado do seu corpo e untou-se com óleo. Enkidu tornara-se um homem, ei-lo como um noivo. Pegou em armas para caçar o leão, para que os pastores pudessem descansar de noite. Apanhou lobos e leões, e os homens dos rebanhos descansaram em paz, pois Enkidu, o homem forte que não tinha rival, era o seu vigilante.
Estava contente vivendo com os pastores até que um dia, erguendo os olhos, viu um homem que se aproximava. Disse para a cortesã:
«Mulher, trás cá aquele homem. Porque veio ele? Quero conhecer o seu nome.»
Ela foi e chamou o homem, dizendo:
«Senhor, aonde vais nessa fatigante viagem?»
O homem respondeu, dizendo a Enkidu:
« Gilgamesh entrou na casa da boda e fechou a porta ao povo. Ele fez estranhas coisas em Uruk, a cidade das grandes ruas. Ao rufar o tambor o trabalho começa para os homens, começa o trabalho para as mulheres. Gilgamesh, o rei, vai celebrar casamento com a Rainha do Amor, e ainda exige ser o primeiro com a noiva, primeiro o rei e o marido a seguir, pois isso foi ordenado pelos deuse desde o seu nascimento, desde que o cordão umbilical lhe foi cortado. Mas agora os tambores rufam para a escolha da noiva e a cidade lamenta-se»
Ao ouvir estas palavras, o rosto de Enkidu empalideceu.
«Eu irei ao lugar onde Gilgamesh reina sobre o povo, eu o desafiarei corajosamente, e em voz alta gritarei em Uruk:
Eu vim para alterar o curso das coisas, pois aqui sou o mais forte.»
Então Enkidu caminhou à frente e a mulher seguiu atrás dele. Entrou em Uruk, o grande mercado, e todas as pessoas se aglomeravam à sua volta enquanto esteve nas ruas de Uruk, a de fortes muralhas. O povo atropelava-se; falando dele diziam:
«É o estilete de Gilgamesh.»
«É mais pequeno.»
«É mais largo de ossos.»
«Este é o que foi criado com o leite dos animais bravios. Dele é a maior força.»
Os homens rejubilavam:
«Agora Gilgamesh encontrou um adversário. Este grande homem, este herói cuja beleza é semelhante à de um deus, pode competir até com Gilgamesh.»
Em Uruk estava feita a cama nupcial, digna da deusa do amor. A noiva esperava o noivo, mas de noite Gilgamesh levantou-se e foi a casa. Então Enkidu saiu, pôs-se na rua e barrou o caminho. Chegou o poderoso Gilgamesh e Enkidu encontrou-se com ele à entrada. Atravessou o pé e impediu que Gilgamesh entrasse na casa, e então agarraram-se um ao outro como touros. Quebraram as ombreiras da porta e as paredes foram sacudidas, resfolgavam como touros enganchados. Destruíram as ombreiras da porta e as paredes foram sacudidas. Gilgamesh dobrou o joelho com o pé assente no chão, e com uma volta Enkidu foi derrubado. Então imediatamente a sua fúria faleceu. Quando Enkidu foi derrubado, disse a Gilgamesh:
«Não há no mundo outro como tu. Ninsun, que é tão forte como um boi selvagem no estábulo, foi a mãe que te gerou, e agora ergues-te acima de todos os homens; e Enlil deu-te a realeza, porque a tua força ultrapassa a força dos homens.»
E então Enkidu e Gilgamesh abraçaram-se, e foi selada a sua amizade.
Gilgamesh, Op.cit. p.19-20
Téc. mista s/tela, 100x80cm, 2003.
Panting by L. Tavares
Colecção do autor.

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