segunda-feira, 12 de maio de 2008

Um não não assim tão simples...

"O kôan nº 1 do do Wu Mên Kuan, intitulado "O cão de Chao Chu", mais conhecido como "A Palavra Wu de Chao Chu", porque wu, em japonês mu, significa simplesmente, não!

Um monje perguntou a Chao Chu: " Um cão possui a natureza do Buda?" E o mestre respondeu: "Não!"

Acerca deste kôan escreveram-se inúmeros comentários, todos concernentes à palavra "não". E tantas foram as opinões divergentes quantos os autores que a trataram. Particularmente interessante é a do mestre Ta Hui (1089-1163), da escola Lin Chi (em japonês: Rinzai). Foi ele quem instaurou nesta escola a tradição, todavia viva no Japão, de utilizar este kôan como meio mais eficaz para aceder à iluminação. A palavra wu ou mu tem uma função quase mágica, um pouco como o som mântrico om no misticismo indiano. O próprio som wu! e não o seu sentido, está considerado como psicologicamente capaz de conduzir o espírito do adepto a superar a oposição da afirmação e da negação, de tal modo que a sua subjectividade se transforme finalmente em WU! o proprio (o Nada).
No plano linguístico, é muito mais simples interpretar o wu! de Chao Chu como a presentação directa da dimensão da não-articulação que acabamos de mencionar. Chao Chu, noutros termos, anula imediatamente o efeito da articulação operada pelo monje, onde a realidade inarticulada fora fragmentada em duas entidades, o cão e a natureza de Buda. Conduz ambas ao Nada original, no qual não há nada que possa ser separado, seja um cão, seja a natureza mesma do Buda."

Izutsu, T., El Kôan Zen (Op.cit), p.41.

Trad.:L.T.

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