quinta-feira, 22 de maio de 2008



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O presente é também constituído pelo passado




O presente contém o passado. Quando não compreendemos como as nossas formações internas provocam em nós conflitos, poderemos ver de que maneira o passado se encontra no momento presente, e então não somos doravante submergidos pelo passado. Quando o Buda declara: «Não persigam o passado», ele não nos pede para não nos afogarmos nele. Ele não quer dizer que devemos parar de olhar para o passado e de o observar profundamente, mas de o fazer enquanto firmemente instalados no presente, pelo que, assim, não nos encontramos mais submergidos pelo passado. Os materiais do passado constituem o presente e revelam-se quando se exprimem e se actualizam no presente. Podemos aprender muito graças a eles. Se olhamos profundamente estes materiais, poderemos ter dele uma nova compreensão. Segundo a sageza confuciana, isso chama-se « observar novamente qualquer coisa de antigo para nele apreender qualquer coisa de novo».



Se sabemos que o passado se encontra também no presente, compreendemos que somos capazes de mudar o passado transformando o presente. Os fantasmas do passado, que nos seguem no presente, pertencem também ao momento presente. Observá-los profundamente, reconhecer a sua natureza e transformá-los, leva a modificar o passado. Os fantasmas do passado são muito reais. São as nossas formações internas que são, por vezes, aliviadas, adormecidas, e que, noutros momentos, se despertam bruscamente e agem de maneira brutal.




Encontramos no budismo o termo sânscrito anusaya. Anu significa «com»; saya, «repouso». Poderemos traduzir anusaya por «tendência latente». As formações internas continuam a subsistir em nós, mas elas repousam, fugidias, nas profundezas da nossa consciência. Chamamo-las fantasmas, mas elas existem de uma maneira muito real. Segundo a escola, vijñanavada do budismo, as anusaya são graínhas que se encontram na consciência alaya de cada um. Uma parte importante do trabalho de meditação-observação consiste em ser capaz de reconhecer as anusaya quando elas se manifestam, de as observar profundamente e de as transformar.»




Thich Nhat Hanh, La Respiration Essentielle, notre rendez-vous avec la vie, Albin Michel Spiritualités vivantes.









Pintura: S/Título, téc.mista s/tela, 100x150cm, 1999.
Colecção: Luís José de Vasconcelos (artista plástico)
Pintura de Luís tavares

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