terça-feira, 8 de abril de 2008

Thich Nhat Hanh (Vietnam)



Sutra Anuradha

“Tathaghata quer dizer «aquele que chegou assim» ou «aquele que partiu assim».

No Sutra Anuradha, o Buda responde a uma questão que causava perplexidade a muitos monges: «Que acontece ao Tathagatha depois da morte? Continuará ele a existir? Cessará ele de existir? Continuará, ele, e cessará, ao mesmo tempo, de existir? Não continuará e não cessará, ele, ao mesmo tempo, de existir?»

O Buda perguntou a Anuradha: «Que pensais acerca do seguinte? O Tathagatha poderá ser reconhecido através da forma?
-Não, mestre.
-O Tathagatha pode ser reconhecido no exterior da forma?
-Não, mestre.
-O Tathagatha poderá ser reconhecido através do sentimento, da percepção, das formas mentais, ou da Plena Consciência?
-Não mestre.
-Anuradha, uma vez que não encontrais o próprio Tathaghata nesta vida, porque razão querereis resolver o problema de saber se continuarei ou cessarei de existir, ou se continuarei e se cessarei de existir, ao mesmo tempo, ou se, ao mesmo tempo, não continuarei e não cessarei de existir?(1)»

“Robert Oppenheimer, o físico conhecido como o pai da primeira bomba atómica, teve a oportunidade de ler esta parte do Sutra Anuradha. Graças às suas observações sobre as partículas ele compreendeu que elas não poderiam ser limitadas pelos conceitos de espaço, de tempo, de ser, de não-ser. Veio a escrever: «Para o que aparece como sendo as questões mais simples, temos tendência, ao mesmo tempo, a não lhes dar resposta e a dar uma resposta que faria à primeira vista pensar num estranho catecismo como o são as afirmações peremptórias das ciências físicas. Se nos perguntamos, por exemplo, se a posição do electrão permanece a mesma, somos forçados a responder «não»; se nos perguntamos se a posição do electrão muda com o tempo, seremos forçados a responder «não»; se nos perguntamos se o electrão se encontra em repouso, somos forçados a responder «não»; se nos perguntamos se ele está em movimento, somos forçados a responder «não»(2).

Como vemos , a linguagem da ciência começou a aproximar-se da do budismo. Após ter lido a citação que apresentámos, retirada do Sutra Anuradha, Oppenheimer declarou que, até ao século XX, os cientistas não haviam sido capazes de compreender as respostas de Buda realizadas há dois mil e quinhentos anos.”

1. Anuradha Soutra (Samyutta Nikaya,XLIV,2)
2. J.Robert Oppenheimer, Science and Common Understanding (New York: Simon and Schuster, 1954), p.40. Trad.fr. La Science et le bon sens, Gallimard, 1963.


Thich Nhat Hanh, La Vision Profonde, De la Pleine Conscience à la Contemplation Intérieure, Traduit de l'anglais par Philippe Kerforne, Paris, Albin Michel, col. Spiritualités Vivantes,1995, p.145.

Versão-Tradução para Português: Luís de Barreiros Tavares.

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