quinta-feira, 13 de março de 2008

ah a leveza aérea do rio...

ah a leveza aérea do rio que
desliza
sem o saber e a luz
alvinitente
que o tece___todos os dias
sem cessar
é isso que vos oferece
eternidade
que nunca se trai
nunca se desnuda
às coisas em
estrita mutação

"Lírica Translúcida" - edição de autor 
Manoel de Souza-Valente.
Pseudónimo de Manoel Tavares Rodrigues-Leal
lxª2007/06/26
Opus.cit

"...nunca se trai/nunca se desnuda...". E contudo este passo parece sugerir que a 'eternidade' acompanha as "coisas em estrita mutação" ao ponto de se 'trans-fundir' com elas. E é neste acompanhar da eternidade com as coisas e das coisas com a eternidade que esta se move, em mutação, de outro modo que não o das coisas como quando se lêem esses versos pela primeira vez. Reler os versos permite com efeito a trans-mutação. Trans-mutação da própria eternidade. Eternidade já móvel e não imóvel à maneira platónica ("o tempo é a imagem móvel da eternidade"Platão). Donde o sentido de eclosão e de multiplicidade de percepções que retroagem sobre uma pretensa estaticidade do eterno. Daí a ideia de 'translucidez' (Lírica Translúcida) que sugere a força e a intensidade das sensações que atravessam o poema. Num re-dimensionamento perceptivo do que se move e do que não se move.

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